Vamos a banhos...

Sempre tive jeito para crianças. Às vezes sou muito pouco paciente com barulho e as habituais gritarias, e lá distribuo umas palmadas no rabiosque de alguém, mas de modo geral, sempre tive jeito.
E os putos tendem a gostar de mim.
Limpar cocós e xixis nunca foi um problema para a minha pessoa. Pelo menos, até agora.
Mas e sempre que ouvia outras pessoas a dizerem que tinham limpo e mudado a fralda ao pai, à mãe, ao avô ou avó, causava-me um certo constrangimento.
Talvez pela ideia de se tratar de um adulto, com diferente compleição física, um meu semelhante.
Nas crianças tudo é inho!
Tudo é pequenino e por conseguinte ficou institucionalizada na minha cabeça a ideia de que em muito se assemelha tratar de um bebé-brinquedo, com excepção dos excrementos que, neste caso, são reais mas suportáveis. Acima de tudo quando se tratam dos nossos filhos.
A ideia de “dar banho” ou “mudar a fralda” a um adulto, sempre me pareceu mais agressiva, mais nojenta, pois nos adultos nada é inho…
Agora estou a passar pela experiência de dar banho à minha mãe. Ela não precisa de grandes cuidados e é independente em tudo. Mas na hora do banho, o reumático trai-a sempre, as pernas não respondem e é necessária ajuda para entrar e sair da banheira e até a minha permanência na casa de banho, não vá ela cair.
Ontem, estava a meio da tarefa e a pensar que há 40 anos atrás isto era tudo ao contrário. E relembrei os banhos e a forma como ela mos dava, agora muito semelhante ao que faço com ela.
E de repente, assolou-se-me uma ideia que me deixou muito nervosa…Uma perspectiva futurista de mim com a minha filha no comando.
E pensei, será que vai ter o mesmo carinho e paciência? Não me parece…Não sei….
O que é facto é facto é que não me agrada muito a ideia da perda de independência e cada vez melhor entendo a minha mãe neste aspecto.
Fico, contudo, grata por estar a passar por isto. E é com muito gosto que tenho a velhota (se me ouvisse, estaria a levar já uma bangalada!!!) lá em casa e trato dela as vezes que forem preciso, embora não sejam muitas devido à sua independência.
Apenas me custa o facto dela ser muito teimosa, não deixar explicar nada e sair-se sempre com um “eu sei”, mesmo para as coisas das quais nunca tinha ouvido falar. Algo que o tempo e alguma persistência minha conseguirão domar.
Sem dúvida que não há nada como passar por certas coisas para aprendermos a viver… e que de facto há provações na vida, mas todas elas têm um propósito.
A mim, se calhar, faltava-me esta, não obstante ter tido até agora uma vida repleta delas!

Comentários

sibila disse…
Elaine,

Escreveu um texto muito bonito e sentido. Nos dias que correm, os velhos são considerados um fardo, um pedaço inútil da criação.

Mas já pensou que nos sentimos tão bem quando fazemos o bem pelos outros? E que, um dia, seremos nós a precisar, sem ter a certeza de receber de volta o que no passado demos?

Um beijinho,

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