Texto optimista

“O Parlamento tinha aprovado um golpe de Estado: o Estatuto Político-Administrativo dos Açores ”.

Era uma vez... um mundo e nesse mundo as pessoas acordavam e corriam para os seus empregos (as que os tinham) – onde umas trabalhavam e outras não – para poderem comprar muitas coisas. À noite, regressavam a casa e mergulhavam em estranhos programas de televisão sobre a vida de outras pessoas. As pessoas foram comprando coisas e viviam para comprar coisas. Foram-se esquecendo dos valores e, por vezes, até confundiam outras pessoas com coisas. A necessidade de comprar tornou sofisticados os meios para comprar, mas isso não preocupou ninguém, desde que todos pudessem continuar a comprar. E quanto mais compravam mais queriam.

É certo que também já ninguém sabia muito bem por que precisava de comprar tantas coisas, mas uma vez mais ninguém parou para pensar. E, muito estranho, continuava a não se encontrar aquela coisa chamada felicidade, mesmo que muitos recorressem a antidepressivos (procura que ao longo dos séculos tem tentado toda a espécie de tontos, porque a Senhora vive em pequenas coisas que se vulgarizou não valorizar).

Um dia, um tremor de terra abanou esse mundo. Aterradas, as pessoas deram-se conta de que podiam acabar de um momento para o outro e agarraram-se impulsivamente umas às outras enquanto assistiam ao ruir do que estava à volta. Agora, tinham de construir qualquer coisa. O primeiro impulso foi para reconstruir o que tinha vindo abaixo, mas depois as próprias pessoas deram-se conta de que o que tinha ruído e desaparecido não era assim tão importante e que elas mesmas eram mais importantes do que as coisas. E procuraram valores. E voltaram às pessoas. E deram às coisas o devido valor.

Entretanto, acordei de um sono profundo e tudo estava igual, pois como pregava Nietzsche, a Humanidade gosta mais de ver gestos do que ouvir razões.

Ao acordar, o Parlamento tinha aprovado um golpe de Estado constitucional – o Estatuto Político-Administrativo dos Açores – num gesto de inexplicável masoquismo e o Governo propunha que os alunos até ao 9º não tivessem avaliação, desresponsabilizando tudo e todos até lá, no tal caldo de cultura de que ninguém tem obrigações, espessando o dito.

A ser assim, está visto que nenhuma regeneração passará pelo ensino, até porque ninguém explica como é que depois se recuperam nove anos, se a coisa correr mal desde o princípio ou perto dele.
E amanhã é outro dia.

Paula Teixeira da Cruz

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