O mar (pensamentos)


A ideia de acordar alagada, água em todos os poros, à volta da casa, a embrulhar o meu corpo nú.
A ideia de suspensão na terra (entre mares) no limite de uma segurança imponente, um rochedo enorme e localizado, guiado num eclipse solar que aproxima e afasta menos que circularmente.
A ideia do desaparecer misterioso, a imagem esbatida de uma obstrução ocular, por entre instantes de parecer querer...
O mar somos todos.…
Pensamentos ao final da tarde numa praça qualquer do rossio, copo branco numa mão e sorriso nos lábios.
O jogo de adaptabilidade como um teorema, dias a desenrolar-se no espaço sem quadrícula ou denominador exactamente comum.
Só um respirar, uma calma e um acesso.
Há nos humanos uma dificuldade incrível de ser perante o outro.
Um espelho duplo de confianças e fragilidades, um barómetro bipolar a analisar credibilidades.
Corremos para os relacionamentos segundo o modelo de ar comprimido, apertamo-nos para disparar, um medo quase patético de ir longe demais, de perder o concentrado de consciência individual, de perder o equilíbrio à luz de um passado pressuposto, de um conhecimento afinal estéril, generalizado, um assumir da experiência como verdade absoluta, uma verdade-escudo.
Como se isso alguma vez nos pudesse salvar!
O mar, somos todos.
Queremo-nos tanto como nos queremos a nós próprios, ou mais como queremos ser queridos, com a fome toda que temos que nos queiram. No fundo, partilhamos, muitos, a fantasia de uma super star: um écran gigante, os momentos altos em câmara lenta…tudo repetições.
O mar, somos todos.

Comentários

Mensagens populares