Santo António, Lisboa, Marchas afins...

Ainda no sábado, vinha a chegar a Lisboa e comentei que cheirava a Santo António...
Lisboa, tem definitivamente um cheiro característico nesta altura do ano. E faz-me sempre recordar a minha infância no Alto Pina:
- Oh Senhor, dê-me um tostãozinho pro Santo António!
Chegava a tirar 300 paus! Era guita na altura.

Uma vez o meu primo andou todo o santo dia a pedir na rua e depois disse-nos que ia lá abaixo num instantinho e voltava. Devia ter juntado cerca de 200$00 no dia todo. Era um dinheirão! Quando a minha tia chegou da venda e perguntou por ele nós dissemos que ele estava a pedir pro Santo António. Entretanto as horas foram passando e ele nada... E a minha tia estava já ficar possessa, quando chega ele com um arzinho todo satisfeito. Pergunta a minha tia em tom de quem o quer castigar, o que tinha andado a fazer, ao que ele responde:
- Oh mãe, andei a pedir pro Santo António ...
Ela desatou aos berros com ele, que já era tarde (eram cerca de 8 da noite quando ele chegou) e vai de pegar na colher de pau e dizer que para a próxima levava se chegasse tão tarde. Entre berros e desculpas o Zeca lá conseguiu dizer que tinha tirado 200$00 e os olhos da minha tia brilharam (era mesmo muito dinheiro). A tia pediu-lhe o dinheiro e ele disse que já não tinha. A colher de pau entrou logo em acção...
O pior mesmo foi quando ele explicou o que tinha feito ao dinheiro, isto depois de já ter levado uma carga...
Era para o Santo António não era mãe?!?!? Eu fui à Sé e deixei lá dizia ele lavado em lágrimas...
Coitadinho do Zeca... Tinha ido por o dinheirinho todo na caixa de esmolas...

Cheira de facto a Santo António mesmo sem peditório. E cheira à praça onde a minha mãe vendia...

E recordo-me sempre disto, cantado por ela:

Quando ela passa, franzina e cheia de graça,
Há sempre um ar de chalaça, no seu olhar feiticeiro,
Lá vai catita, cada dia mais bonita,
E o seu vestido, de chita, tem sempre um ar domingueiro.

Passa ligeira, alegre e namoradeira,
E a sorrir, pra rua inteira, vai semeando ilusões.
Quando ela passa, vai vender limões à praça,
E até lhe chamam, por graça, a rosinha dos limões.

Quando ela passa, junto da minha janela,
Meus olhos vão atrás dela até ver, da rua, o fim,
Com ar gaiato, ela caminha apressada,
Rindo por tudo e por nada, e às vezes sorri pra mim.

Quando ela passa, apregoando os limões,
A sós, com os meus botões, no vão da minha janela,
Fico pensando, que qualquer dia, por graça,
Vou comprar limões à praça e depois, caso com ela !

Comentários

Anónimo disse…
Sem peditório?!?!?!... ainda ontem, ao final da tarde, fiz um "raid" fotográfico pelo Castelo e Alfama e desembolsei mais de 4 euros em moedinhas, em nome do Santo António!!.... e os "mitrinhas" olhavam-me de esguelha por contribuições abaixo dos 20 Cêntimos :O!!!!

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