Não sou muito de televisão. Eventualmente lá sigo uma ou outra série (2, para ser mais precisa), mas não sou daquelas tipo quero-despachar-me-porque-começa-daqui-a-5-minutos. Na verdade, estou-me um bocado até nas tintas e fico grata quando vejo que me sentei e vai justamente começar uma das séries que costumo ver, embora já tenha perdido uns quantos episódios anteriores. Só fico colada ao televisor por videoclips ou um belo espectáculo de ballet. Desde pequena que é assim.
No entanto, adoro cinema no cinema e não desgosto nada da ideia do cinema em casa aconchegado pela mantinha e pelo aquecedor. Nada mais gratificante que colocar um daqueles thrillers de cortar a respiração no DVD e deixar-me mergulhar na história, depois de um dia cansativo de trabalho.
Mas não sou de televisão. Muito menos sou de telenovelas. Aliás, creio só saber o nome de algumas pelos títulos nas revistas cor-de-rosa na banca do Sr. José. Nunca, mas nunca mesmo, vi um episódio da Floribela (salvo as sátiras dos Gatos Fedorentos) ou dos ditos morangos. Morangos para mim é mesmo com chantilli e só na taça!
Tenho o hábito de me sentar no sofá, retirar o som da TV, colocar um CD na aparelhagem e devorar a minha literatura.
E ultimamente, tenho andado mesmo embrenhada nisto, confinada ao já segundo volume da Anne Rice em apenas uma semana.
Isto tudo e apenas para registar que com a pressa, não baixei como habitual o som da TV nem coloquei o habitual CD. O cansaço estava a vencer-me mas não conseguia descolar-me da leitura. Por isso o que fiz foi sentar-me o mais rápido possível com a dita manta e mergulhar no livro, esquecendo por completo o que emanava do televisor. E antes de conseguir ter tempo para ficar absorta na leitura, eis que ouço (lá ao longe...):

- Mas eu não gosto de mentir.
- Desculpe lá Maria, é uma coisinha tão simples.
- Mas eu não sou capaz. Não consigo mentir. Sinto-me muito mal com isso. Não vou ser capaz!
- Oh ! Por amor de Deus! Não está a mentir. Está a representar não vê? Toda a gente tem dentro de si um actor pequenino que por vezes sai por ai, a saltitar, está a ver? [...]


E apercebi-me que se tratava de uma novela. E a frase do actor pequenino causou-me uma estranha sensação.
Levantei-me num salto e retirei o som. Mesmo sem CD.
Fiquei envolta no silêncio.

E pensei que nem há mês e meio me “despedi” de um verdadeiro candidato a Óscar!...

E agarrei-me com unhas e dentes à Anne Rice e ao calor da manta até adormecer.

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